sexta-feira, 15 de março de 2019

Waclaw Radecki no Brasil de 1923

Jayme Grabois, Nilton Campos, Édouard Claparède e Waclaw Radecki na Colônia de Psicopatas no Engenho de Dentro,  Rio de Janeiro, no final da década de 1920. Acervo do autor.
Como citar esta obra:
Centofanti, R. (2019). Waclaw Radecki no Brasil de 1923. [Blog] Cogitare et sentire. Recuperado de https://nadamaisdoqueideias.blogspot.com/2019/03/waclaw-radecki-no-brasil-de-1923.html [Acesso em 9 Jan. 2020].



Waclaw Radecki foi um psicólogo polonês que se fez marcar na História da Psicologia no Brasil no período de 1924 a 1932, quando atuou como diretor no Laboratório de Psicologia na Colônia de Psicopatas no Engenho de Dentro, e como criador e também diretor no Instituto de Psicologia em 1932, ambos no Rio de Janeiro. É personagem ao qual me dedico, ainda que de forma assistemática, desde os primeiros anos da década de 80 (Centofanti, 1982), e nele continuo interessado por dois aspectos: 1) nas lacunas biográficas a serem ainda preenchidas e 2) na Psicologia contida em seu Tratado (Radecki, 1928/1929), e que nunca mereceu de nossos historiadores alguma atenção. Radecki foi também, no início da década de 90, destacado por Antonio Gomes Penna (1992) e, depois disso, tem merecido atenções de outras pessoas.

As informações disponíveis, porém, passados esses anos, continuam praticamente as mesmas. O que sabemos de Radecki na Polônia e Europa nos chegou por fontes da Argentina e Uruguai, países para os quais se foi depois de deixar o Brasil em 1932. O pouco que sabemos de sua vida no Brasil em 1923 foi produto da lembrança de dois de seus antigos assistentes: Nilton Campos e Jayme Grabois. Pouca coisa e, ainda assim, fragmentada.

No decorrer do Encontro deste ano, promovido pelo Laboratório de História e Memória de Psicologia do Instituto de Psicologia da UERJ, muito se falou sobre as vantagens trazidas aos pesquisadores pelo advento das hemerotecas digitais. De fato, mas no evento fiz questão de registrar meu ponto de vista: 1) vantagem para quem verdadeiramente gosta de pesquisa e 2) para quem sabe o que pesquisa e o que fazer com coleção de dados. Maristela Bleggi Tomasini e eu havíamos recorrido aos noticiários da São Paulo dos anos 10 do século passado em hemerotecas digitais, visando entender a Belle Époque dos paulistas em que surgem laboratórios de Psicologia em algumas escolas normais secundárias naquele Estado, esforços dos quais resultou a publicação de um livro (Centofanti & Tomasini, 2014). Fomos, portanto, testemunhas das vantagens dessa inovação, mas somos pesquisadores, e sabemos o que procuramos.

Por que não, também, procurar notícias sobre Waclaw Radecki no Brasil de 1923? Esta pesquisa sem grandes pretensões foi realizada junto às hemerotecas digitais por meio de três filtros: nome do pesquisado (com variações), Estado da Federação (Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná), e o constante ano de 1923. O resultado disso foi o encontro de muitas informações até aquele momento desconhecidas, e a confirmação de algumas sugeridas em minha publicação de 1982, o que traz ao pesquisador certo alívio em virtude dos acertos do passado. Nessa medida, o título desta crônica é exatamente o seu conteúdo: assentamento de mais tijolos na construção da biografia do psicólogo Waclaw Radecki, agora com informações de 1923.

Pois bem: a primeira constatação na pesquisa é que a maioria das notícias daquele ano sobre Radecki vem do Paraná. Portanto, sua trajetória no Brasil tem início em Curitiba, com poucas visitas a São Paulo e ao Rio de Janeiro, para onde se mudou de forma definitiva em 1924. A segunda é que desde a chegada se afirmava como psicólogo e falava em criar uma escola brasileira de Psicologia. A terceira seria, talvez, tornar ficção a história de Euryalo Cannabrava (1933), segundo a qual, ao desembarcar no porto do Rio quando da chegada ao país, Radecki teria saído às pressas pela cidade à procura de autor brasileiro de algum livro de Psicologia. Dessa  aventura tomado conhecimento de Manoel Bomfim, localizado sua residência, e com ele conversado por quatro horas: “quando abandonou a casa do maior pedagogo brasileiro, levava cartas de apresentação para o reitor da Universidade, diretores das escolas e de instituições científicas do país” (pag. 2). Tivesse as facilidades anunciadas por Cannabrava, e não iria trocar a capital por dúvidas na província. Como veremos, não foi o que aconteceu. Importante lembrar que em 1920, de acordo com dados da Sinopse do Senso Demográfico, a cidade do Rio de Janeiro tinha 1.157.873 habitantes, São Paulo 579.033 e Curitiba 49.755. Pequena, mas com vida cultural intensa.

Esse encontro com Bomfim foi também relatado por Nilton Campos e Jayme Grabois, para Gomes Penna e para mim, mas em outra circunstância e contexto, a saber, sua indicação para ocupar a direção do laboratório de Psicologia na Colônia de Psicopatas, que se deu em 1924, onde, a exemplo do que ocorreu nos laboratórios das escolas normais secundárias de São Paulo, em 1910, aparelhos e instrumentos foram importados, mas sem a presença de pessoas que soubessem o que com eles fazer. O encontro desses dois homens era mais do que legítimo, pois, por informações de Mitsuko Aparecida Makino Antunes (2001), Bomfim viajou em 1902 para Paris “com a finalidade de desenvolver seus estudos em Psicologia, tendo frequentado o laboratório de Psicologia anexo à Clínica Jouffroy, em Saint’Anne, e estudado com Georges Dumas e Alfred Binet, com quem planejou a instalação do primeiro laboratório de Psicologia brasileiro” (pag. 92), e que ocorreu em 1906. Bomfim foi o único autor brasileiro citado por Radecki em seu Tratado.

A primeira notícia encontrada em nossa pesquisa data de 17 de abril de 1923, e foi publicada na capa do Commercio do Paraná: “Curitiba hospeda o ilustre professor de Psicologia da Universidade de Varsóvia e ex-lente das universidades de Paris e de Genebra. Dr. Radecki é também um notável artista do violoncelo”. E segue: “Numa aristocrática reunião realizada ontem na apreciável vivenda do Sr. Dr. Miszke, cônsul da Polônia, o eminente musicista fez-se ouvir em quartetos de Beethoven e trios de Mozart e Arensky, encantando com a sua técnica e expressão a seleta assistência. O quinteto musical estava composto das seguintes pessoas: piano Senhora Consulesa D. Miszka, 1º violino Sr. Ludovico Seyer, 2º violino Srta. Bianca Bianchi, viola Sr. Carlos Goudard e violoncelo Dr. Waclaw Radecki”. Chegou pela porta da frente, portanto, e como musicista. Afinal, tinha formação de violoncelista e de regente de orquestra pelo Conservatório de Florença.

Eis, muito provavelmente, o porquê da escolha de Curitiba: a forte presença da colônia polonesa, inclusive com público apreciador da música erudita, o acesso às autoridades consulares de seu país, e a residência de seu cunhado, Adolpho Peplowski, veterinário municipal, na casa do qual se hospedou durante sua permanência naquela cidade. Não era lugar para Psicologia, mas certamente para concertos de câmera, e foi com a execução de violoncelo que ganhou a vida por certo período, enquanto procurava onde exercer seu ofício de psicólogo. Não deve ter tardado a descobrir que oportunidades à altura de suas qualificações científicas estavam em São Paulo, e principalmente no Rio de Janeiro. Para os jornais, sua presença no Brasil se fazia explicar pelas dificuldades de uma Europa pós-guerra, que certamente deveria ser expressão de realidade, principalmente na Europa Oriental.

Curitiba, São Paulo e Rio... Os deslocamentos pelo país, naqueles anos 20, eram penosos. Do Rio de Janeiro a Curitiba o transporte de pessoas costumava ser feito por ferrovias, e necessariamente passando por São Paulo. Do Rio de Janeiro à estação Brás, em São Paulo, pelos trens da Estrada de Ferro Central do Brasil, que partia da estação popularmente chamada de Central, e apenas em 1925 denominada de estação Dom Pedro II. Depois, de onde hoje fica a estação Julio Prestes, em São Paulo, até a cidade de Itararé, na fronteira com o estado do Paraná, pela Estrada de Ferro Sorocabana. De Itararé até Curitiba, via Ponta Grossa, pelos trilhos da Rede de Viação Paraná-Santa Catarina. Este último trecho era um dos mais sinuosos do mundo, pois os construtores recebiam por quilômetro de linha construída. Assim, de Itararé até Curitiba eram 436 km de linhas, e a viagem durava algo em torno de 16 horas. De São Paulo ao Rio de janeiro algo em torno de 12 horas, e de São Paulo a Itararé por volta de 12 horas. As locomotivas eram movidas a vapor, e os carros todos fabricados em madeira. Lentos e desconfortáveis.

São muitas as notas sobre o Radecki musicista ao longo de 1923, e todas elogiosas. Em 8 de maio, por exemplo, a capa do Commercio do Paraná noticia que “continua despertando grande interesse das rodas sociais e artísticas desta capital o concerto pelo distinto musicista Dr. Waclaw Radecki, a realizar-se proximamente no Teatro Guaíra. Pela primeira vez nesta capital vai ser proporcionado ao público um concerto de música de câmera, compondo-se o programa de trechos e sonatas para violoncelo, executados pelo Prof. Radecki, trios e quartetos. Constituindo esse concerto uma novidade artística para o nosso meio, é natural o interesse que o mesmo está despertando, o que faz prever essa noitada de arte tenha a presidir-lhe seleta e numerosa concorrência”. 

O Radecki de Curitiba é antes artista do que cientista. O Diário da Tarde de 10 de agosto informa em sua segunda página que o Conservatório de Música do Paraná, “sob a direção do maestro Leo Kessler, fez um convite ao exímio musicista Sr. Dr. Waclaw Radecki para a organização de um curso prático de música de câmera naquele conservatório. O Dr. Radecki abrirá também um curso especial de violoncelo”. Na capa da edição de 24 de dezembro, o mesmo jornal informa que:


O distinto professor W. Radecki, um filósofo e um artista, vai iniciar depois de amanhã seus concertos de violoncelo. Ontem, no salão da Saengerbund, o distinto artista deu uma audição de violoncelo, executando várias peças com a maior habilidade, demonstrando seus excelentes dotes artísticos e pleno domínio do instrumento que raramente aparece em um solo. O professor Radecki sabe dar vida ao violoncelo, fazendo dele um instrumento dócil em suas mãos. O seu primeiro concerto se realizará no dia 26 [de dezembro] e o segundo no dia 28, no salão da Saengerbund, estando para isso organizado um caprichoso programa. 


O Deutscher Saengerbund foi um ícone da cultura alemã em Curitiba, e hoje é conhecido como Sede Concórdia do Clube Curitibano. Surgiu da união dos clubes Germânia e Concórdia. A maior parte das apresentações de Radecki se deu no Teatro Guaíra, ainda hoje existente, apesar de profundas mudanças pelas quais passou ao longo do tempo. Com esse nome reinaugurou em 1900 o Theatro São Theodoro, edificado em 1884, quando suas atividades são suspensas e as dependências – incluindo plateia, camarotes e galerias – transformadas em presídio pelas forças legalistas, por conta da Revolução Federalista de 1894. Em 1939 o Theatro Guayra é demolido, e a reconstrução iniciada em 1952. Grandioso, à época de Radecki.

Notícias sobre o musicista são comuns na imprensa paranaense de 1923. E foi assim até 27 de fevereiro de 1924, quando anunciado na capa do Commercio do Paraná que “a população culta de nossa capital [Curitiba] encontra-se jubilosa por ser justamente hoje que se realiza no Teatro Guaíra o grande concerto em homenagem ao admirável e virtuoso do violoncelo prof. W. Radecki. O Professor Radecki que em breve se retirará desta capital com destino ao Rio de Janeiro, já realizou entre nós dois concertos que ficaram memoráveis, patenteando assim o profundo conhecimento do violoncelo, do qual tira os maiores efeitos e modulações”. Dali para o laboratório de Psicologia que o tornou célebre.

Sua passagem pela Psicologia esteve mais circunstanciada por palestras e cursos breves, notadamente na Universidade do Paraná, entidade privada fundada em 1912, que oferecia os seguintes cursos: Ciências Jurídicas e Sociais, Engenharia, Medicina e Cirurgia, Comércio, Odontologia, Farmácia e Obstetrícia. Como depois da guerra de 1914 o governo federal proibiu a existência de universidades particulares, os idealizadores desmembraram a instituição em faculdades autônomas. Era assim em 1923.

A edição do Diário da Tarde de 18 de abril, em sua quarta página, traz a primeira notícia que encontramos:

O edifício das Faculdades Superiores de Ensino foi ontem visitado pelo eminente Dr. W. Radecki, professor de psicologia da Universidade de Genebra, Diretor do laboratório de psicologia da clínica psiquiátrica da Universidade de Cracóvia. O ilustrado visitante, acompanhado do Prof. Dr. Kossobudzki foi recebido pelo Dr. Victor do Amaral, que o acompanhou em todos os departamentos do edifício universitário. O Prof. Dr. Radecki exarou no livro de visitantes impressões que teve de nosso superior estabelecimento de ensino, e acedendo ao convite do Dr. Victor do Amaral, comprometendo-se a fazer uma conferência sobre os altos estudos de que é emérito mestre.

Como Radecki, Simon Kossobudzki era polonês, médico e militante nas lutas nacionalistas de seu país. Era um dos fundadores da Universidade do Paraná e nela professor na Faculdade de Medicina. Victor do Amaral, na verdade Victor Ferreira do Amaral e Silva, também era médico, igualmente fundador da Universidade do Paraná e diretor da Faculdade de Medicina. E eis que em 26 de maio o jornal Commercio do Paraná divulga em sua capa que “hoje, às 16h30, o ilustre cientista professor Dr. Waclaw Radecki fará no edifício da Universidade do Paraná uma conferência sobre Psicologia, para a qual não há convites especiais, sendo a entrada franca. Exultará de prazer com certeza nossa elite intelectual pela ocasião que se lhe vai deparar de ouvir hoje a palavra erudita do conferencista”. Parte da apresentação de Victor do Amaral é apresentada na edição do mesmo jornal do dia seguinte:

Cabe-me a incumbência de apresentar ao ilustre auditório o distinto orador que vai abrilhantar a tribuna com a sua palavra erudita. É o Dr. Waclaw Radecki, professor de Psicologia da Universidade de Genebra, diretor do Laboratório de Psicologia da Universidade de Cracóvia, diretor da Faculdade de Psicologia e do Laboratório da Psicologia da Universidade de Varsóvia. E eu faço a sua apresentação com todo prazer, convencido como estou que o professor W. Radecki, que as contingências da grande guerra europeia fizeram aportar às nossas hospitaleiras plagas, possui títulos de sobra para recomendá-lo aos centros culturais de nosso país. O estudo da Psicologia que outrora, que como parte integrante da filosofia estava incluído nos programas oficiais de nossos cursos de humanidades, parece que foi atualmente em nosso país relegado para plano secundário, não obstante a sua transcendental relevância. Por isso o assunto das conferências que vai o professor Radecki realizar hoje, e segunda e quarta-feira da próxima semana, é digno de ser ouvido com maior atenção, na certeza que tenho de que o ilustre orador o explanará com toda a proficiência, lamentando apenas que não o possa fazer na língua portuguesa, embora convencido que mesmo em francês seu verbo será entendido por este seleto auditório.

Não se sabe sobre o que versou a conferência, mas possivelmente sobre a situação da Psicologia Contemporânea. Radecki deve ter falado sobre objeto e método da Psicologia com base em sua formação, isto é, com alicerces no determinismo e naturalismo. Estudou Psicologia em Faculdade de Ciências Naturais, e não de Filosofia. Não sem razão, portanto, tinha mais familiaridade com médicos do que, por exemplo, com educadores, embora tenha sempre se desentendido com espíritos meramente “práticos”. Eu próprio já havia afirmado (Centofanti, 2014-b) a consciência de Radecki de que “a educação, a medicina e a engenharia necessitavam dos conhecimentos da Psicologia, de modo a fazerem frente às exigências emergentes daquele tempo (...). Por sua vez, eram as mesmas emergências que criavam demandas para que, no entorno, fosse chamada à pressa e praticidade operatória” (pag. 61). Deve ter repisado isso naquela conferência de 26 de maio. Sempre insistia na necessidade de formação intelectual e científica antes de qualquer aplicação. No dia 28, e no mesmo local, Radecki apresentou sua segunda conferência, desta vez sobre “la vie affectuese, sentiments”. Ao que parece Radecki palestrava sobre as bases afetivas, intelectuais e ativas de sua perspectiva tridimensional da Psicologia humana. Mas fica uma dúvida: seria seu Tratado originalmente escrito em polonês, e antes de  sua vinda ao Brasil?
Um curso facultativo de Psicologia experimental, por iniciativa da Faculdade de Direito da Universidade do Paraná, “já tendo sido escolhido para regê-lo o professor Waclaw Radecki”, surge como notícia na segunda página do jornal A Noite, do Rio de Janeiro, em sua edição de 17 de agosto. Curso teórico, sem dúvida, pois não havia aparelhos e instrumentos de laboratório de Psicologia em Curitiba. Mais notícia dele, no Paraná, foi encontrada em 31 de agosto, em Florianópolis, na capa do jornal República:

Segundo lemos em jornais de Curitiba, tem fixado residência naquela capital o notável professor de Psicologia Dr. Waclaw Radecki, que iniciou na Universidade do Paraná um curso daquela ciência, de que é um dos mais conhecidos especialistas. O Dr. Radecki é professor da Universidade de Genebra, diretor dos laboratórios de Psicologia de Cracóvia e Varsóvia, de onde se irradiou, por toda Europa e América, o seu prestígio científico. É o autor de inúmeras obras, entre as quais se destacam: Psicologia dos Sentimentos, Psicologia das Emoções, Psicologia das Associações de Representações, Psicologia da Vontade, Psicologia do Pensamento. O seu último trabalho escrito durante a guerra europeia, denomina-se Psicologia do Exército.

De agosto até o final de dezembro de 1923 atuou como psicólogo no Hospício Nossa Senhora da Luz, inaugurado em 1903 e mantido pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curityba, período em que fez 110 visitas às instalações da instituição. Tal informação foi por ele prestada em relatório dirigido ao provedor do Hospício, bem como algumas considerações de importância para nossa história.

O trabalho de um psicólogo no hospício de alienados é sempre ligado à existência, no instituto, de um laboratório psicológico. Os deveres de um psicólogo são: investigações de características psicológicas dos doentes que ingressam, observações da evolução mental dos internados, psicoterapia no entendimento com o médico que contemporaneamente trata o lado orgânico. Falta do laboratório, a necessidade de investigar na sala comum, falta do médico no hospício, embora a melhor vontade e esforço do Diretor do Hospício, impossibilita o trabalho preciso tanto no domínio investigativo, como terapêutico.

Nessas formas, como musicista e psicólogo, Waclaw Radecki ganhou a vida na Curitiba de 1923. Difícil imaginar qual seria o entendimento das pessoas, mesmo das mais esclarecidas, sobre o que seria um psicólogo. Por outro lado, talvez o ineditismo lhe facilitasse a difusão, ainda mais em época que os veículos de comunicação eram poucos, assim como seus públicos leitores. Jornais, à época, anunciavam até mesmo a lista de passageiros que chegariam no trem noturno ou desembarcariam do próximo vapor a atracar no cais. Afinal, mesmo com desencontros de suas credenciais curriculares, a imprensa tendia a valorizar suas qualificações. Fato é, porém, que se fazia conhecer além de seus limites próximos. Paralelamente a isso, o universo de intelectuais e cientistas deveria ser diminuto, fazendo com que pelo menos informações sobre eles circulassem com facilidade nesse mundo restrito a poucos.

Sob o título “O Rio hospeda um notável professor de Psicologia”, o Jornal A Rua, em capa da edição de 5 de julho, traz a primeira informação que sobre ele encontramos na imprensa carioca:

Entre as notabilidades estrangeiras que têm visitado o Brasil, figura o Dr. Waclaw Radecki, diretor do laboratório de Psicologia e da Faculdade de Psicologia da Universidade de Varsóvia. O ilustre professor, que é um dos mais conhecidos especialistas na Europa, iniciou a sua carreira científica como livre docente em Genebra, e foi posteriormente diretor do laboratório de Psicologia da Clínica Psiquiátrica de Varsóvia, onde goza de grande prestígio científico. O Dr. Radecki é autor de numerosas obras, entre as quais se destacam: “Psicologia dos Sentimentos”, “Psicologia das Emoções”, “Psicologia das associações de representação”, “Psicologia da Vontade” e “Psicologia do Pensamento”. Dos seus trabalhos esparsos em revistas especializadas, mencionaremos os seguintes: “Fenômenos Psicoelétricos”, “Contribuição e aplicação à medicina das experiências de associação”, “Contribuição à análise dos desejos”, “Indicação para a observação psicológica na criança”, “Criação musical na Polônia”, etc. O professor Radecki, que é polaco de nascimento, tomou parte na guerra, sendo encarregado pelo quartel-general de fazer observações psicológicas no exército. Concluída a sua missão escreveu um longo e detalhado relatório sobre os seus trabalhos, intitulando-os “Psicologia no Exército”. A sua escola conta um grande número de discípulos que se tem distinguido com trabalhos, em que se propagam e defendem as ideias do mestre. O professor Radecki, antes de vir ao Rio, onde visitou os principais institutos científicos, realizou duas conferências patrocinadas pelas sociedades de educação e de medicina [de São Paulo]. Aqui, o ilustre professor fará igualmente duas conferências, que serão patrocinadas pelos Drs. Juliano Moreira, Manoel Bomfim, Maurício de Medeiros, Henrique Roxo e outros. A primeira a realizar-se-á segunda-feira, na Sociedade de Neurologia, e desde já vem despertando grande interesse nos meios científicos.

A saber, qual seria sua “escola” e o “grande número de discípulos”. Teria ele falado ao repórter do Discriminacionismo Afetivo, tal o nome com o qual batizou o que chamava de seu sistema? É possível, pois insistia nesse sistema e com esse nome. Aliás, desgastou-se em virtude dessa insistência, em especial pelos que desejavam desqualificá-lo por diferentes razões, mesmo sem a menor capacidade de entender o que poderia ser o tal discriminacionismo afetivo. De qualquer modo, nunca houve o grande número de discípulos. Aliás, no Brasil nenhum, nem mesmo dentre seus assistentes.

Vamos nos deter um pouco nesse tema, mesmo porque mereceu de minha parte uma despretensiosa publicação (Centofanti, 2003). Pelo prisma do indivíduo, Radecki defendia que o fim último da Psicologia era o da análise do caráter, o do estabelecimento de uma caracterologia, portanto. Como, porém, em virtude da variabilidade humana, estabelecer parâmetros, ainda mais em meio às diferentes classificações de diferentes autores? Diante das muitas variantes funcionais, como escolher as mais significativas? Memória, pensamento, afetividade, e a partir de quais – para estabelecer correlação funcional – hierarquizar as demais funções. Ribot privilegiava o sentir e o agir, Kant o modo individual de pensar, e Radecki a discriminação e a afetividade, de onde o discriminacionismo afetivo. Uma decisão de caráter lógico e metodológico, portanto. No plano maior, e lembrando que na Psicologia de Radecki o homem pensa, sente e age, e que o pensar e o sentir se manifestam nas ações, como não hierarquizar psicologicamente os indivíduos, senão pelas qualidades intelectuais (discriminação) e sentimentais (afetivas) imbricadas em suas ações? Nessa perspectiva, discriminacionismo afetivo se torna uma concepção, um sistema psicológico. A “discriminação colorida afetivamente”, no dizer jocoso de Cannabrava (1933), o metafísico, não é desprovida de possibilidade.  Mais passível de investigação empírica do que, por exemplo, o inconsciente da Psicanálise.

Em 11 de julho proferiu conferência às 20 horas na Escola Politécnica sobre fenômenos psicoelétricos, e em 12 de julho, segundo a página 6 do Jornal do Commercio, apresentou-se na Sociedade Brasileira de Neurologia, Psiquiatria e Medicina Legal, no anfiteatro do Hospital Nacional, em sessão presidida por Juliano Moreira, que ao apresentar Radecki diz “que representa a venerável Universidade de Cracóvia, que pelo pergaminho de fundação traz a data de 1.384, por outorga de Casemiro III, o Grande. É o Dr. Waclaw Radecki, conhecido de nossos especialistas, sobretudo pela sua magnífica monografia sobre fenômenos psicoelétricos, feita no laboratório do egrégio psicólogo (suíço, o professor Claparède, de Genebra). A bibliografia de seus trabalhos publicados em sua língua materna é muito extensa”.

Na conferência do dia 11, na Escola Politécnica, diz O Brasil de 13 de junho, na página 3, que o evento foi promovido pela Academia Brasileira de Ciências. Em brilhante exposição, diz a reportagem, “o ilustre professor tratou dos fenômenos que os excitantes psíquicos produzem no corpo, demonstrando-os praticamente pelas modificações de uma corrente elétrica atravessando o indivíduo, tendo-se prestado a essas experiências diversas pessoas presentes. Tratou-se do assunto do aspecto físico, fisiológico e psicológico”. Talvez seja oportuno lembrar que Radecki definia a Psicologia como ciência da subjetividade. Portanto, nada nele do organicismo comum naquela época.

As passagens de Radecki por São Paulo não têm o glamour da participação de personagens tão destacados como em Curitiba e Rio de Janeiro, mas têm Psicologia. Há uma explicação: o médico e pedagogista italiano Ugo Pizzoli, que em seu país fazia sucesso – como Claparède em Genebra – com cursos de difusão do que se resolveu chamar de Pedagogia Científica, permaneceu por exatos seis meses no segundo semestre de 1914 na Escola Normal Secundária de São Paulo, formando diretores e inspetores da instrução pública paulista nos misteres da nova pedagogia, dita moderna, então vertida à condição de ciência empírica, pela introdução de princípios de Psicologia, Sociologia, Antropologia, Anatomia, Fisiologia e de quaisquer outros que gozassem do status de ciência. A formação do pedagogo tem sido essa até os dias atuais.

Esse movimento da Pedagogia Científica visava inserir os professores, retardatários na grande onda da cientificidade que mudou o eixo de valor do conhecimento a partir do final do século XIX, no chamado mundo moderno. A grande razão, talvez, o fato de a eles estar confiada uma geração que deveria, pela escola, promover de fato a modernidade. Necessário lembrar que o chamado mundo moderno se fazia, na instrução, pelo rompimento com a igreja, no Brasil a Católica Apostólica Romana, que por séculos manteve o monopólio do ensino. Talvez não seja exagero, portanto, dizer que a Pedagogia Científica era uma reforma republicana, e de caráter quase global. Nessa medida, a educação como “sacerdócio” deveria ser tornada científica. Dizia-se que instruir era atividade de imenso valor, inclusive para os objetivos nacionais, para que ficasse aos cuidados dos simplórios e ignorantes professores.

Nessa doutrinação rumo à cientificidade, a Psicologia ocupou lugar de destaque e, em virtude da influência italiana, em São Paulo também a Antropologia. Praticou-se uma psico-antropologia, digamos assim, e isso se deu antes mesmo da chegada do italiano Ugo Pizzoli. É uma história ainda com lacunas e um tanto extravagante. De qualquer forma, a Psicologia tinha em São Paulo uma representação social.

Certamente inspirados em algum modelo dos Estados Unidos, os reformadores da instrução pública de São Paulo resolveram, para o ensino psico-antropológico dos professores, e para exame das crianças, dotar a escola normal secundária da capital, assim como as normais secundárias de algumas cidades do interior, de aparelhos e instrumentos de laboratórios de Psicologia, e isso em 1910. Dois fatos, porém, são curiosos: ao menos parte dessa aparelhagem foi importada da Itália, e levava a marca Ugo Pizzoli, e confiada à direção de um professor primário igualmente italiano, no início de 1910, chamado Clemente Quaglio, que até o final do primeiro semestre de 1909 lecionava em grupo escolar na cidade de Amparo, no interior paulista, e também onde ministrava aulas particulares de inglês.

Bem, estou me alongando nessa história que foge ao objetivo desta publicação. Interessados encontrarão detalhes no livro que publiquei com Maristela Bleggi Tomasini, em 2014. Antes disso em artigo sobre Ugo Pizzoli, em 2002, e outro sobre a introdução da psicometria junto ao professorado paulista, em 2006. De qualquer forma, a Psicologia se fez difundir pela imprensa em meados da década de 1910, se tornando conhecida por parte da sociedade letrada de São Paulo, e dos próprios jornalistas, que souberam melhor aproveitar a passagem de Radecki pela capital, em 1923.

Momento de esclarecer algo importante. O fato de Radecki ter sido assistente de Claparède e o de este aparecer associado à Psicologia da Criança e Pedagogia Científica leva os mais desavisados a imaginarem que o psicólogo polonês tivesse os mesmos interesses. Não tinha. Em comum com Édouard Claparède, o célebre neurologista e psicólogo suíço, uma psicologia dimensionada a partir de funções psíquicas, e não de estruturas psíquicas. Iguais na perspectiva do funcionalismo, portanto. Radecki estava voltado para a Psicologia Geral, e a partir dela e como desdobramento para fins de aplicação a Psicologia Individual, que como bem esclarece em seu Tratado, cuja “noção básica é a de caráter” (p. 358). Pretendia formar psicólogos e se opunha a qualquer aplicação sem as correlatas qualificações teóricas em Psicologia Geral. Caminhava, portanto, na direção inversa do que pretendia a chamada Pedagogia Científica, que era meramente instrumentalizar professores para o exercício da mensuração e classificação. Claparède, inclusive, fazia parte dos que compartilhavam dessa convicção.

Em 21 de junho, A Gazeta e o Correio Paulistano divulgam uma mesma notícia:

Encontra-se nesta capital o eminente professor Dr. Waclaw Radecki, diretor da Faculdade de Psicologia de Varsóvia. O ilustre visitante, que com grande interesse tem procurado conhecer o nosso meio científico, aproveitará a sua permanência aqui para realizar duas conferências. A primeira dar-se-á hoje, as 20 e meia horas, e versará sobre os Métodos na Psicologia Contemporânea. A conferência será feita na Sociedade de Educação, no salão do Jardim da Infância. A entrada é franca

Ah, ele havia se introduzido na Sociedade de Educação de São Paulo, a mesma sensibilizada com a psicologização a que foram expostos os professores nos primeiros anos da década de 10. Métodos na Psicologia Contemporânea deveriam ser tema inovador para a maior parte dos participantes, pois viam Psicologia pelo ângulo analítico e prático adotado por Ugo Pizzoli em sua interpretação psico-antropológica do que, certamente, não representava o que do melhor se fazia na Itália. Pizzoli era um divulgador, um propagandista da tal Pedagogia Científica. Muito criativo na idealização de aparelhos e instrumentos, mas distante de se fazer notar pelas habilidades com construção teórica e conceitual. Nessa medida, Radecki deveria parecer estranho. O Correio Paulistano de 22 de junho anuncia para o dia 23, na Sociedade de Medicina e Cirurgia, uma conferência de Radecki sobre Os Métodos Psicanalíticos em Psicologia, “com demonstrações”. Havia também se introduzido entre os médicos. O jornal O Estado de São Paulo de 27 de junho divulga em sua página 4 que “atendendo ao convite do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz, o Sr. Waclaw Radecki, professor de Psicologia da Universidade de Varsóvia, fará hoje, às 20 horas, à Rua Brigadeiro Tobias 45, uma conferência sobre o tema A vida Afetiva. Os professores e alunos da Faculdade de Medicina e todas as pessoas que se interessam pelo assunto são convidadas para a referida conferência”.

Em 22 de junho, de acordo com notícia da segunda página do jornal Correio Paulistano, visitou a Faculdade de Pedologia da capital, em companhia de seu diretor, Clemente Quaglio, que fez uma exposição dos trabalhos de Psicologia Experimental aplicada à Educação nos últimos anos em São Paulo, e presenteou Radecki com exemplares de algumas publicações. Diz a reportagem que o psicólogo examinou “com vivo interesse todos os instrumentos, aparelhos e mental tests dessa escola de cultura científico-pedagógica”. Mental tests com certeza, pois Quaglio andava às voltas com aplicação dos testes Binet-Simon tão logo publicados na França. Quanto aos aparelhos e instrumentos, é mais provável que fossem do laboratório da Escola Normal de São Paulo, do qual Quaglio foi diretor de 1910 até 1925, quando substituído por Lourenço Filho, que aposentou o laboratório de forma definitiva, por volta de 1930, depois de recepcionar o psicólogo francês Henri Piéron em 1927, e que também dele fez uso para demonstrações em suas palestras. Lourenço Filho introduziu os testes: práticos, baratos, e não exigiam nenhum preparo. Representavam uma Psicologia prêt-à-porter. De qualquer modo, os aparelhos e instrumentos estavam na escola normal em 1923, embora servissem como peças de museu para apreciação de visitantes. De pouco ou nada serviram desde que Pizzoli regressou à Itália no final de 1914.

De modo pouco usual na imprensa, a passagem de Radecki por essas instituições paulistanas foi acompanhada e registrada em 30 de junho por Alberto Conti (1923), lente da Escola Normal de Casa Branca, no interior paulista, e que fora uma das normais secundárias que havia sido provida de aparelhos e instrumentos de laboratório de Psicologia.

As primeiras linhas são reveladoras:

“São Paulo tem a honra de hospedar, por estes dias, uma personagem de invulgar distinção no mundo da ciência, uma personagem como poucas têm aportado, não direi a São Paulo, mas ao Brasil. Trata-se do prof. Dr. Waclaw Radecki, psicólogo eminente que procura instalar-se em nosso país, pretendendo aqui um curso de psicologia teórica e aplicada, com ramos especiais para a Pedagogia, a Psiquiatria, o Direito, etc., e um laboratório de Psicologia Experimental, dotado de material e aparelhos modernos, seguindo os mais modernos métodos da investigação científica no campo da Psicologia e das ciências correlatas”.

Mas era exatamente isso que Radecki pretendia, e exatamente o que fez entre 1924 e 1932.

Eis o que promoveu durante sua passagem pela capital dos paulistas:

O ilustre professor realizou nesta capital, a pedido, três conferências com os títulos que seguem: 1. Objeto e método da Psicologia contemporânea; 2. Métodos psicanalíticos em Psicologia; 3. Vida Afetiva. Na primeira, realizada no Jardim, da Infância, anexo à Escola Normal, promovida pela Sociedade de Educação, sob a presidência do Dr. Renato Jardim, diretor da Escola Normal, dissertou o Dr. Radecki (nem mais se poderia fazer em uma hora) sobre todo o conjunto dos fatos psíquicos, discutindo as definições de Psicologia... (...) A segunda conferência, com o título “Métodos Psicanalíticos em Psicologia”, foi realizada na Sociedade de Medicina e Cirurgia, sob a presidência do professor Dr. Pinheiro Cintra. Para o local da conferência foram transportados do laboratório de fisiologia da Faculdade de Medicina, os aparelhos que se destinavam à demonstração prática de algumas teorias do grande psicólogo, cedidos pelo professor Dr. Cantídio de Moura Campos. (...) A terceira conferência teve lugar na sede do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz, promovida pelo presidente do Centro, o Sr. José Ignácio Lobo, ocupando a presidência da sessão o Sr. prof. Dr. Lindenberg, diretor da Faculdade de Medicina. Nessa noite o prof. Radecki desenvolve mais profundamente as ideias acima anunciadas sobre a Vida Afetiva. Ele analisa, em primeiro lugar, os caracteres distintivos entre a vida afetiva e a vida intelectual, caracterizando mais acentuadamente os elementos afetivos...

Também interessante, nas informações do lente de Casa Branca, os registros dos pontos explorados pelo psicólogo polonês em suas preleções, e que certamente despertaram a sua atenção. Tratava-se da psicologia como ciência dos fenômenos subjetivos, ou seja: tendo a subjetividade como caráter permanente, o que tornaria o processo psíquico inconfundível. Assim, antes de qualquer indagação psicológica experimental seria mister bem delimitar os domínios dos fenômenos. Para tanto, Radecki distinguiu dois métodos de investigação; a observação e a experimentação. A observação compreendendo a introspecção e a extrospecção, bem como inúmeros outros pontos abordados. Revelador, entretanto, Conti, na passagem citada, haver registrado que “todas as teorias do professor Radecki apresentam sempre um liame, uma conexão estrita e harmônica, tendendo todas a um fim comum, o que dá a seu sistema um caráter de unidade”. Sim, isso tudo era Radecki, inclusive na ideia de desenvolver um sistema que incorporasse e nele se diluíssem os demais. Os conceitos empregados em suas palestras estão em seu Tratado, o que alimenta a hipótese de que tenha chegado ao Brasil com sua Psicologia acabada.

Viu-se frustrado o lente de Casa Branca ao dizer que “como paulista lamentaríamos sinceramente que o nosso Estado sempre na vanguarda das demais unidades da Federação, não retivesse aqui esse notável cientista que, dentro de breve tempo, poderia apresentar um bom número de discípulos preparados para a aplicação prática de Psicologia, de que necessitam hoje as escolas normais, as faculdades de medicina, de Direito e outras instituições”. Foi acontecer no Rio de Janeiro.  

Com estas novas informações, fica facilitado o caminho para quem quiser escrever uma edição comemorativa, em caráter individual ou coletivo, ao centenário de criação do Laboratório de Psicologia na Colônia de Psicopatas, no Engenho de Dentro, a ocorrer em 2024. Está perto.


Referências

Antunes, M. A. M; (2001) Bomfim, Manoel José do (1858-1923) Dicionário Brasileiro da Psicologia no Brasil: Pioneiros, Rio de Janeiro, Imago, pag. 92-94.

Cannabrava, E. V. (1933) Waclaw Radecki. Rio de Janeiro, O Jornal, 28 de novembro, p. 2.

Centofanti, R. (1982) Radecki e a Psicologia no Brasil. In Psicologia: Ciência e Profissão, Conselho Federal de Psicologia, DF, Ano 3, nº 1, p. 2-50.

Centofanti, R.(2002) Ugo Pizzoli Estudos e Pesquisas em Psicologia, Rio de Janeiro, Ano 2, Número 1, 1º semestre, pag. 75-93.

Centofanti, R. (2003) O discriminacionismo afetivo de Radecki. Memorandum, 5, pag. 94-104. 
Recuperado de http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/artigos05/centofanti01.htm.

Centofanti, R. (2006) Os laboratórios de Psicologia nas escolas normais de São Paulo: o despertar da psicometria .Psicologia da Educação, São Paulo, 22, 1º semestre, pag. 31-52.

Centofanti, R. & Tomasini, M. B. (2014) O livro dos cem anos do laboratório de psicologia experimental da escola normal secundária de São Paulo: 1914-2014. São Paulo, s/e, 114 p.

Centofanti, R. (2014-b) Teoria, método e aplicação na obra de Waclaw Radecki. In Jacó-Vilela, A.M. & Portugal, F.T. (org.) Clio-Psyché: Instituições, História, Psicologia. Rio de Janeiro, Outras Letras, p. 59-70.

Conti, Alberto A propósito das conferências psicológicas do prof. Waclaw Radecki (Resumo e Reflexões) São Paulo, Correio Paulistano, 30 de junho, pag. 5-6.

Penna, A, G. (1992) História da Psicologia no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Imago Ed. 158 p.

Radecki, W. (1928/29) Tratado de Psicologia. Rio de Janeiro, Imprensa Militar, 447 p.

Nota de esclarecimento

O Tratado de Psicologia de Radecki está aqui registrado com duas datas - 1928 e 1929 – por resultar da encadernação de 17 fascículos denominados Resumo do Curso de Psicologia, sendo os quatro primeiros publicados em 1928, e os restantes em 1929. São todos da Escola de Aplicação do Serviço de Saúde do Exército e publicados pela Imprensa Militar do Rio de Janeiro.

Rogério Centofanti

São Paulo, 15 de março de 2019