Se morresse ainda
forte
um bom seguro era uma
sorte
prá família
A loteria
Falava nisso todo dia
Ele falava nisso todo
dia - Gilberto Gil
A
aposentadoria estava próxima. No máximo cinco anos mais de espera. Ele fazia
contagem regressiva para a chegada desse momento, como presidiário faz para o
da soltura. Bem, como negar que na grande maioria das vezes essa paralelidade
seja mais do que mera analogia? Para quem ganha o pão esgotando a reserva de tempo
e a de energia de vida com o que não satisfaz, a aposentadoria tem indiscutível
sabor de alforria, da mesma forma que soltura para presidiário. Para essa gente
a aposentadoria é um prêmio de compensação pela penosidade sofrida por décadas
de trabalhos forçados. Forçados? Sim, pois vividos como determinação
obrigatória na marcha para o sustento, pois na maioria das vezes trata-se de gente
que vive no limite do que consegue.
-
Almofadinhas. Não sabem nada. Era o que dizia aos iguais sobre jovens que de
chegada ocupavam cargos de chefia. Ah, a eterna disputa do princípio de
autoridade: de um lado a do título e de outro a da experiência presumida pela
idade.
Para
o pai o mundo do trabalho estava dividido em duas categorias: o pesado e o leve.
A rigor não entendia a organização e a divisão do trabalho industrial. Tudo
ficava reduzido aos grandes e aos pequenos, isto é, aos que ganhavam muito e
mandavam e aos que ganhavam pouco e obedeciam. Ele ainda empregava os termos
lida e tarefa, comuns na faina rural. Não conhecia outros termos desde a
infância, pois o tempo todo na tarefa ou na lida desde que se conhecia por gente,
e sempre na companhia de pai e irmãos. Ia para a roça com o Sol nascendo e
tornava para casa com o Sol se pondo.
O
velho fazia parte de uma geração de operários paulistas que migrou do campo
para a cidade em meados da década de 40. Fuga da escravidão da terra, sem dia e
hora que não fosse para a lida sem fim, e também sem dinheiro. Gente que vinha
para a capital a partir de uma região onde as já pequenas propriedades rurais
ficaram cada vez ainda menores por conta da partilha entre herdeiros, a ponto
de servirem apenas à produção para a própria subsistência, e olhe lá. Uma
pequena horta, uma pequena criação, e nada mais. Não sem razão nestes lugarejos
há hoje mais capelas do que casas e pessoas, pois elas são de um tempo em que nos
terreiros adjacentes se reuniam os jovens das redondezas para as festas de dias
santos. Esses jovens partiram, e ficaram apenas as capelas e os velhos. A
fábrica tinha horários, repouso e, como gostava de dizer, ordenado. Casou-se quando
em São Paulo com a filha de outro operário que também fugiu da roça, e que como
ele tinha nas mãos os calos formados no tempo da enxada.
Era
o mais novo de nove irmãos. Ele, sete homens e uma mulher. A mulher ficou no sitio
com os pais, e os outros sete se espalharam pelo mundo. Nunca mais os viu.
Também nunca mais viu pais e irmã. Vez ou outra alguma notícia, mas sem qualquer
confirmação, inclusive a da morte de um ou de outro irmão. Ele pouco falava de
seu passado e de sua família. Só mesmo quando provocado, e ainda assim o mínimo
possível. Bem, nem mesmo gostava de falar. Apenas o necessário. Não se sabia o
que lhe ia pela cabeça. Não tinha interesse por política, economia, artes,
religião ou por qualquer outro assunto que não fosse de sua própria conta.
Conheceu
a mulher quando foi em final de semana na casa de colega ajudar a encher uma
laje. Trocaram olhares e ele perguntou ao colega se podia com ela casar. O
parceiro disse que sim, e isso antes mesmo de Maria saber que ele tinha por ela
algum interesse. Por que casou? Ora, porque todo mundo nasce, cresce, casa, tem
filhos e morre. Pergunta besta! Fora assim com os avós, com os pais, com tios,
com vizinhos, e seria com filhos e netos.
-
É assim desde sempre, devia matutar.
Maria
fora uma moça comum, desengonçada, descuidada, mas trabalhadeira. Parecia
sadia, mas apenas parecia. Dos três filhos um morreu no momento do parto, e depois
disso houve sucessivas doenças. Morreu antes dele se aposentar, e era pelo
menos cinco anos mais nova. Morreu de doença ruim, como se dizia naquela época,
em tempo que era praticamente inaceitável reconhecer a presença de um câncer. Ele
morreu de problemas cardíacos. Morreu em casa e dormindo, como convém a todo
bom cristão.
Ela
cuidava do lar e dos filhos. Limpava a casa, lavava e passava as roupas e fazia
as refeições. Cumpria com as obrigações de dona de casa. Ao tempo da marmita do
marido levantava de madrugada para fazer a comida. Arroz, feijão, bife ou ovo.
Era com isso que abastecia a marmita, o almoço dela e dos filhos - quando ainda
moravam com os pais - e o jantar de todos. Fazia também o café da manhã: café,
leite, pão e margarina. Para o almoço de domingo macarrão com frango ou frango
com polenta. Isso era tudo. Não saia de casa, exceto algumas vezes para visitar
os pais que moravam perto.
Com
exceção da carne, comprada no dia do consumo em pequeno açougue que surgiu nas
redondezas, todos os demais gêneros eram adquiridos em armazém próximo,
registrados produtos e valores em caderneta, e a conta paga mensalmente quando
do recebimento do salário. Era assim com feijão, arroz, pão, leite, margarina,
óleo, sal, açúcar, macarrão, farinha, café, ovos, cebola, alho e temperos. De
quando em quando fazia um bolo. Bolo do que? Bolo de bolo: farinha, ovos, açúcar,
leite e fermento.
-
Seu pai foi um exemplo, Francisco.
É
o que lhe dizia vez ou outra o fundador da empresa. O patriarca vinha aos
poucos sendo substituído pelo filho mais velho, filho esse que, por sua vez,
trazia consigo para o aprendizado de comando o seu, e ainda adolescente. A
sucessão do clã. Coisa de empresa familiar. O fundador conhecia os empregados
mais antigos pelos nomes. Tinha com eles uma espécie de gratidão, pois entendia
e dizia que estiveram todos juntos desde a fase heroica de consolidação da empresa.
Aliás, nem mesmo falava em empresa, mas em fábrica. O filho formara-se em
engenharia, mas como sucessor mostrou-se mais vocacionado para a fábrica do que
para a empresa. Era fácil encontra-lo cheio de graxa debaixo de uma máquina,
mas com dificuldade se ocupando dos negócios. Uma metalúrgica que se mantinha
com os mesmos produtos em sua faixa de mercado, mas sem entrar no caminho das grandes
para não se tornar alvo delas. Bem, mas nenhum empregado parecia preocupado com
isso. Tinham todos eles a sensação que o mundo iria esperar por suas
aposentadorias antes de surgir com alguma mudança que pudesse lhes ameaçar a
garantia do emprego.
O
cabisbaixo Francisco sentia-se satisfeito a cada vez que o patrão elogiava o velho,
talvez da mesma forma que filho de mordomo que dá continuidade aos cuidados do
pai na supervisão da criadagem em mansão de família nobre. Em boa medida sentia-se
envaidecido por ser tratado como gente de confiança.
Exceto
na versão moderna de vassalagem e o exemplo talvez não seja feliz, pois ele nunca
foi conduzido a cargo de mando. Uma vez pediu promoção, mas foi pelo chefe imediato
convencido, com mão sobre o seu ombro e sorriso na face, de que nenhum outro
saberia fazer o seu trabalho com tamanha dedicação e responsabilidade. Nem promoção,
nem aumento e nem paz em casa de parte da mulher inconformada com a ausência de
progresso do marido.
-
Quanta teimosia, Chico, disse Nair, a mulher. Afinal estava convencida de que
pobreza é um espírito. Essa convicção surgiu desde que se tornara pentecostal.
Chico não a acompanhou, e teimava em não acompanhar. Resistia na condição de católico,
embora como o pai em nada praticamente.
-
Mais vale um pássaro na mão, disse o pai quando soube da negativa. Afinal, o
fato de o filho trabalhar com caneta dele fazia exemplo de pai que cumpriu a
obrigação de propiciar ao filho uma vida melhor do que a que teve.
Chico,
como mais conhecido, chegou ainda novo à fábrica, ocasião em que foi
apresentado ao chefe de pessoal, um sujeito que mandava e desmandava no destino
de todos os empregados. Um pouco de conversa e saiu de lá contratado. Iria
trabalhar na gerência financeira ocupando o cargo de assistente de contas a
pagar. Cargo, diga-se, que ocupa até hoje.
-
Serviço leve, dizia o pai, para quem o trabalho do filho consistia em anotar
papéis ou fazer uso de teclado.
Eram
trinta anos identificando as obrigações a pagar, priorizando pagamentos, impedindo
a perda de prazos, realizando conciliação com os saldos contábeis e outras
atividades afins. Ficou preocupado quando a empresa informatizou a área, pois
se sentiu ameaçado, mas tranquilizou-se a seguir quando percebeu que o sistema
precisava ser alimentado por alguém. Morria de medo de perder o emprego, mesmo
porque era o único funcionário daquela gerência a não ter diploma de nível
superior. Pensou algumas vezes em continuar os estudos, principalmente depois
que a empresa passou a buscar por certificação de qualidade, mas sempre
postergou a decisão, até finalmente abandona-la em definitivo.
A
irmã fez escola normal, mas dedicou-se às prendas domésticas. O curso normal garantia
uma profissão que poderia ser necessária caso o marido faltasse. Esse era o
pensamento do pai.
-
Mulher é para casar e cuidar do marido e dos filhos.
Francisco
mora hoje na mesma casa em que nasceu, e que fora construída a mando do pai em
bairro outrora periferia de São Paulo. Como a capital expandiu-se, a antiga
periferia cresceu e juntou-se aos limites de agrupamentos já urbanizados. Hoje o
que se chama de periferia são localidades ainda mais distantes do centro. Um
bairro operário, e no passado um loteamento operário que foi aos poucos sendo ocupado.
Também aos poucos recebeu benfeitorias públicas tais como água, luz, esgoto,
calçamento, coleta de lixo e transporte. Hoje tem até escola e posto de saúde.
-
Progresso, dizia o pai.
Bem,
e era. Antes de iniciar a construção teve que furar poço para obter água para a
obra. O material foi chegando aos poucos, de carroça, que muitas vezes teve
dificuldade para escalar a rua em dias de chuva. Feita a casa e furou-se uma
fossa. Tardou para que a energia elétrica chegasse, assim como o calçamento e a
iluminação pública. O ponto final da única linha de ônibus ficava distante da
casa e poucos eram os veículos. Amassou muito barro no trajeto de ida e volta
de casa para o ônibus. Também progresso na outra ponta da linha, pois depois de
descer do ônibus tinha que caminhar muito até chegar à fábrica, onde o trabalho
pesado, hoje a cargo de máquinas, era feito pelos músculos, e a comida levada
de casa em marmita e esquentada dentro de uma grande cuba rasa em banho-maria.
Criou
resistência quando marmitas foram aposentadas em virtude do refeitório coletivo
implantado, e as refeições ali produzidas e servidas em bandeja individual de
alumínio. Começou dizendo que estava
acostumado com a comida da mulher, e que era verdade. Mesmo quando impediram o
aquecimento das marmitas em banho-maria continuou com a comida fria na marmita,
alegando que estava acostumado com o tempero da comida da mulher, o que também
era verdade. Foi necessário pedido do patrão para que se alimentasse como os
demais. Mesmo assim criou caso com o copeiro que servia no balcão, exigindo que
todos os alimentos fossem colocados no mesmo compartimento da bandeja, o maior.
Arroz, feijão, bife, ovo e salada.
-
Mas vai misturar tudo, disse-lhe o copeiro.
-
Ué? E não vai misturar na barriga?
Era
assim que comia na marmita e também quando em casa: tudo misturado no mesmo
prato fundo e levado à boca por uma colher empunhada como se fosse colher de
pedreiro. Baixava a cabeça sobre o prato e só levantava quando ele estivesse
limpo. Quando pouco havia nas panelas juntava tudo que havia restado em uma
delas e ali comia como se fosse um prato.
-
Não se joga comida fora.
Era
uma casa com dois dormitórios, sala, cozinha e um banheiro, além de pequena
varanda que cobria a porta de entrada da sala e igualmente pequena área de
serviço que se prolongava na saída da cozinha para o quintal. Casa operária de
quatro águas. Construção sólida e típica dos anos quarenta. Sala e quarto
assoalhados em vigamento de peroba sobre porão que servia apenas para impedir o
contato direto das madeiras com o chão de terra.
No
lote construiu-se uma e edícula nos fundos quando Francisco casou-se, e na qual
morou com a mulher até recentemente, para ser exato até a morte do pai que já
era viúvo. A edícula era um puxado, no dizer de hoje, com um dormitório, sala e
cozinha conjugada, além de um pequeno banheiro. Com a mudança de Francisco para
a casa e a edícula foi transformada em dispensa.
Da
casa para a edícula e da edícula de volta para a casa, e essa foi toda a
trajetória residencial da vida de Francisco. Sempre no mesmo terreno, na mesma
rua e no mesmo bairro. Na volta para a casa dos pais, e sob os protestos
diários de Nair, a mulher, conservou boa parte dos móveis que lá estavam desde
a sua infância. Mesa, cadeiras, cristaleira, camas, guarda-roupas e
criados-mudos que imitavam os estilos dos similares maciços que na época da
aquisição estavam na moda. Da edícula para a casa levou um sofá, duas
poltronas, mesinha e televisor, geladeira, fogão e alguns poucos eletrodomésticos,
mas coisas foram descartadas. Dentre elas o velho cuco que não funcionava fazia
tempo e o oratório com a imagem de São Roque, de quem a mãe era devota. Nair, a
mulher, disse que só entraria na casa por uma porta se o santo saísse antes por
outra. Afinal, desde que se tornara crente resolveu abrir guerra contra tudo
que entendesse como demonstração de idolatria. Como sempre, e de cabeça baixa,
Francisco atendeu mais esse capricho.
A
estética não passou perto das vidas de pai e filho. Na casa e na edícula nada
que pudesse denunciar a presença de algum mimo. Na casa do velho nem um pequeno
vaso com flor, exceto a de plástico que servia de moldura à pequena capelinha
que abrigava São Roque, e mesmo assim desbotada e coberta de pó. Apesar do bom quintal
na entrada e nos fundos até a edícula, e nenhum jardim, exceto uma roseira que
vivia a maior parte do tempo sem folhas por conta da ação de formigas. Nem
mesmo um limoeiro. Por outro lado, sempre o plantio de couve e de abóbora.
Plantio apenas do que poderia servir a mesa. Aliás, por falar em mesa, nela nem
mesmo uma fruteira de louça ou uma singela toalha de crochê. Não
era muito diferente na edícula de Chico, também desprovida do que pudesse denunciar
a existência de alguma sensibilidade.
Nora
e sogra não se davam. A diferença, entretanto, não passava apenas pelo aspecto
religioso. Maria, a sogra, não gostava de como a nora tratava o filho, e não
entendia o que o impedia de reagir. Nair era mesmo abusada, e adorava
desqualificar Francisco na presença de quem estivesse por perto. Ele ficava
quieto e nem mesmo esboçava reação. Era por ela tomado como símbolo de
fracasso, e nessa condição comparado a tudo e a todos, sempre tomados como
exemplos a melhor.
Também
não tinha bom relacionamento com a cunhada, irmã de Francisco, mas gostava de
usá-la para seus propósitos, lembrando sempre de seu afortunado casamento ao
escolher um cabo, que com o passar do tempo tornou-se sargento. A irmã sabia
que se tratava de uso oportunista, mas preferia ficar quieta para não tornar a
situação do irmão ainda pior. Fosse quem quisesse defendê-lo e Francisco sempre
punha panos quentes para justificar as abomináveis atitudes da mulher, e todos os
mais próximos sabiam disso.
Tardou
para Francisco notar o que ela realmente sempre foi. Feia, descuidada,
deselegante, mal humorada, grosseira, invejosa, maldosa e desinformada. Não
observou tudo isso quando o amigo do pai, e que se tornou seu sogro, com ela
apareceu em uma despretensiosa visita de final de semana. Parecia-lhe à mão e
sem riscos pelo fato de tratar-se de filha de gente próxima, de gente “como
nós”, de gente de bem. Casou-se com o mesmo critério de quem adquire carro
usado de conhecido, imaginando que isso seja garantia de isenção de problemas. Casou
por casar, pois nem mesmo precisava disso. Foi apenas mais uma rotina no modo
de conduzir a própria vida. Afinal, se tinha emprego devia casar, e assim
cumprir sua missão, fosse lá o que entendesse por isso.
Nada
tinha de seu que não fossem obrigações e contas para pagar. Nem amigos e nem
atividades próprias. Nenhuma vontade e nenhum querer. Tinha o nome, dizia-lhe o
pai, como se isso pudesse cobri-lo com alguma fidalguia. Não se sentia livre
nem mesmo para comprar para si um chocolate do ambulante que ficava ao lado do
ponto do ônibus. Vinha-lhe a culpa por pensar em si. Colegas convidavam para
jogar bola e mesmo para pescar, mas ele sempre recusava. Não aceitava convite
nem mesmo para café ou cerveja no bar que ficava na esquina da fábrica. Sabia
que a mulher tornaria sua vida um inferno ainda maior se aceitasse tais
convites, e ele realmente não tinha coragem para dar um basta na tirania da megera.
Conformou-se como o pai ainda em vida de chegar do trabalho e ir assistir TV na
casa e na companhia dos velhos. O filho também costumava acompanhar. Era seu
único abrigo, seu único refúgio. Agora que ficara com a casa, mas sem os pais,
e nem isso tinha. Nem rota de fuga e nem mesmo de esquiva. Recolhia-se no
dormitório e com fone de ouvido escutava alguma estação de rádio, enquanto a
mulher assistia os pastores na TV. Nem mesmo tinha para quem reclamar, uma vez
que aceitou se tornar refém da mulher que sobre ele derramava a amargura e o vazio
da própria existência.
Já
o filho de Francisco almejava desde novo o seu espaço, e saiu de casa para
cuidar da própria vida tão logo pode. Não aceitou a ideia do avô de construir outro
puxadinho na lateral do terreno. Queria ter sua vida e romper com aquilo que
parecia ser uma sina se ali permanecesse. Saiu, formou-se, empregou-se e
construiu a vida de acordo com a própria imagem e semelhança de alma. Não
queria para si o destino do pai, e embora entendesse e respeitasse o do avô,
também não seria o seu. Mais do que meramente colecionar diplomas e títulos
necessários ao exercício do ofício que abraçara ele literalmente se reeducou,
pois se armou de todo um respeitável arsenal de qualidades intelectuais e
sensíveis que do berço não pode herdar. Não se fez outro por mudar de ambiente,
apenas, mas por mudar de mentalidade, principalmente. Aliás – pensava -, a
única mudança digna do nome. Há quem diga que mandou fazer uma pequena tatuagem
no ombro direito. É possível.
Rogério Centofanti
São Paulo - Julho de 2016